segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Fotossíntese
Não consigo dispensar a melancolia
de um cigarro [bem tragado
No parapeito da minha janela
Engulo a fumaça
Baforo minha tristeza
O vento frio carrega as cinzas
Espalha-as na cidade quase
adormecida]
Respiro as tristezas de outros
Talvez tão solitários
Talvez tão simplórios
Quanto o meu cigarro infeliz
Odeio o amargo da fumaça
Na minha boca
Mas gosto de beijar bocas
Contaminadas pelo dissabor do fumar
[Viver é uma eterna fotossíntese de nicotina]
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Pixaim
Ah, fez, né? Falei, todo mundo ia elogiar. Ficou leve, prático, bem diferente de como era antes. Dava um trabalhão pentear aquilo tudo, né? Mas agora vai ser fácil. E olha como é rápido se arrumar agora.
Identidade? Que mané identidade! Cê acha que ter cabelo ruim te torna mais negra? Mal-agradecida. Tento ajudar e cê me retribui desse jeito, me chamando de racista. O racismo já acabou no Brasil, minha filha! Aqui todo mundo tem oportunidade igual, é só ir atrás do seu. E, ó, não corta seu cabelo curtinho pra ele nascer ruim de novo, tá? Vai parecer uma sapata.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Do sentir
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Restos
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
(Nosso)
Sabe, escrever sobre você nunca foi fácil.
“Pára de fantasiar, isso é longe demais da tua realidade, sai dessa!”. Não sei porque discutia tanto comigo mesma. Pior, sei que o faço de teimosia mesmo – você sabe melhor que todo mundo –, por ter o péssimo ato de entrar de cabeça em tudo o que me encanta assim, de primeira vista, e que me dá aquele fiapo de alegria sincera, daquelas que se tornam constantes por dias a fio.
Desde o começo, era difícil compreender aquela torrente de sentires novos, que percorriam meu cérebro a 300km/h e, principalmente, me deixavam completamente desarmada. Eu, que sempre achava que podia “diagnosticar” tudo o que sentia e ter uma palavra sobre cada pessoa, momento ou ocasião, me encontrava diante de um enigma, dum todo que eu conhecia muito menos do que gostaria. Ainda acho que o medo seja o primeiro instinto verdadeiro, seguido pela curiosidade e pelo maravilhamento. E quanto mais eu pensava “caralho, o que tá acontecendo comigo”, maior era a minha fascinação sobre o seu Eu e a sua história.
Paralelo a esse magnetismo que até então eu desconhecia, vinha esse seu entrar na minha, numa profundidade que eu jamais havia sentido. Em um espaço de tempo no qual não sei determinar, você se tornou essencial no meu viver. Mais: arrisco dizer que você se tornou parte de mim, um pedaço tão fundamental como qualquer outro. Só assim eu poderia explicar o vazio imenso que me toma a cada vez que saio de perto de você.
Talvez seja por isso que eu não consiga te (d)escrever. Você roubou todas as minhas palavras naquela tarde na Consolação. Agora, minhas letras são todas suas.