domingo, 26 de julho de 2009

Like a rolling stone

Apenas cinzas. Batidas do um furacão vindo de dentro, uma brisa vinda de fora.

Cinzas, resto de algo que se despedaçou para formar. Cinza, o estático. Cinza o mundo. Cinza, a besta do instinto que faz correr, correr, cansar. Besta cinza que persegue as horas de insônia.

- O quê do ser? O ser de quê? Fazer o quê?

Não sabe se fica mais besta por falta de resposta ou por continuar a indagar o mesmo. Varre o pensamento, põe a sujeira debaixo do tapete. Pra voar de novo. Sujar a casa. Voltar pra este limpar-sujar-limpar. Cuida mal de sua casa. Mau o que pensa. Má, a besta.

Amanhece. Do lado de fora. O céu, vanilla; o laranja que batalha com o púrpura e o azul, e perde. Perde sem assumir. O céu de fora reflete o céu de dentro, há muito sem lua. Sem sol. Tão sujo...

Irrelevante. O despertador toca. Uma mão trêmula tateia no quarto ainda escuro, encontra os chinelos. Como se fossem os chinelos os alvos da busca! Como se alguém soubesse o que se busca. Como se alguém buscasse algo por querer.

É a necessidade que move. Que cria, que faz. Sentir, crescer. Sem motivo. Por uma certeza hesitante, porque há algo que merece que vivamos para alcançar. Tem de haver. E se não houver, sai, anda, sem lenço e sem documento, como Caetano. Pra ver no que vai dar.

Se tentar não adiantar, continua. Esquece. A vida é isso. Uma jornada errante, cheia de construções inacabadas, atrás. Que, caso o peso dos tijolos ou o preço do cimento forem maiores do que se pode agüentar, continuarão inacabadas. É mais fácil abandonar, ter uma liberdade planejada, ser inteiro. Sentir que a sucessão de quedas de outrora é passado. Continuar levando adiante o acaso, singelo, enigmático...

Até o momento, em que a memória cessa a branquidão e passa a lampejar existência. Tentou. De todas as formas. Até cair por terra, exausto do longo caminho.

Foi rocha. Rolou, caiu, fragmentou. Agora, apenas cinza, varrida do furacão de dentro e da brisa de fora.

23 comentários:

Larissa disse...

"A vida é isso. Uma jornada errante, cheia de construções inacabadas, atrás..."
Muito bom o texto e essa visão da vida. Um tanto quanto melancólica. Como eu em alguns momentos.

Amo a música do título do post também, Like a Rolling Stone. E acho que a tradução da música tem tudo a ver com seu conto.

Parabéns.
bjs
;*

Ryan Zamperlini disse...

Eu queria ter uma visão como a sua...

'preciso refletir! ¬¬'

douglas nascimento disse...

"Como se alguém soubesse o que busca, como se alguém buscasse algo por querer"

Depois da parte abordada no primeiro comentário, essa foi a mais bacana para mim.
Lembrei de Aristóteles. Se não me engano, foi ele quem afirmou que o Homem vivia e agia em devoção à felicidade. Tudo o que nós fazemos é para sermos felizes.
No seu texto isso aparece de forma mais realista. Ninguém sabe o que busca, e ao mesmo tempo, buscamos a felicidade. Acredito que inconscientemente façamos isso, ou não façamos. Enfim, cada estrofe dessa que escreveu me renderia horas de conversa comigo mesmo.
Beijos, Sam.

Luana Mendes disse...

Gente andando pra deus sabe onde procurando deus sabe o quê?
confuso, como nós ;)

Elton Alves do Nascimento disse...

Visão abrangente do lado mais comum da vida. Seus textos são de uma singela e ao mesmo tempo complexa e agradável beleza.

Gαby Oliveirα!* =)) disse...

Tem meme pra ti no meu blog Sam. *-*
Beeeijo enorme!* (:

Rafael Cotrim disse...

Agora apenas cinza... ;x

Me identifiquei com este ;x

Don't Speak disse...

Me identifiquei demais com seu texto meo!
E...você escreve muito bem, parabéns!
Beijo.

Sunflower disse...

Cinza é bom, afinal nem tudo é preto ou branco.

beijas

João Bertonie disse...

Tem um trecho do Fernando Sabino, em "O Encontro Marcado", que diz que temos apenas a certeza de que não sabemos o que fazer, como começar e que seremos interrompidos antes de terminar '-' Muito tenso isso.
Ninguém sabe o que procura, muitas se deixam levar para onde o vento leva. Há dois tipos de pessoas: 1) As que fazem as coisas por querer. 2) As que fazem as coisas por outras pessoas pressionarem. (Também tem outra definição, mas a segunda é mais "escrota"!)
Bom, e o nosso Hotel de Papelão? Procura alguma imagem que tem algo a ver, ok? HAHA


beigos mil

Henrique Miné disse...

Cinza é bom, afinal nem tudo é preto ou branco. []

Éissaê!

Beeijo.

Henrique Miné disse...

ah, finge que tem um "2" entre os colchetes ali. hehe

Ana Paula disse...

Parabéns pelo texto, você escreve bem ( coisa que eu não sei kkk ), não tenho uma imaginação fértil assim kkkkk' !
Adoreei seu blog :)
Depois passa no meu? Beijos :*

Thaís A. disse...

Que fofo Sam, lindo *-* Refleti demais agora!

Juliana Theodoro disse...

Noossa! IN-CRI-VEL,muito bom o texto. Parabéns (:
beijos

http://meusolhosderobo.blogspot.com

Luana Andrade disse...

texto mt beem elaborado

confuso como eu.
amei o blog, bjao.

Nathália Monte ;D disse...

'Como se alguém soubesse o que se busca. Como se alguém buscasse algo por querer.'

adoreii essa parte.minha querida esse texto ta maravilhoso..

beijO ^^

Adriel disse...

e de cinza a dedo foi tudo escrito...
de dentro pra fora de fora pra dentro
escrivo, Lido e relido...


Otimo! texto
Grande Abraço! Moça!

Tiffany disse...

adorei esse texto super alternativo.

como como fã dos stones, gostei mais ainda!

haha, beijinhos :*

Soraia Alves disse...

Nossa, a descrição do céu vanilla foi demais, aliás, o texto todo!
Parabéns!

beijos

Ana disse...

É, talvez a gente fique mais besta por sempre indagar o mesmo, ainda que as respostas nunca venham ! É o ser humano...

lindo, demais *-*

Beeijo ;*

Vanessa Cristina disse...

É tudo cinza. Tudo.


Beijo
:*

Sâmia Moraes disse...

Perfeito seu texto chará *----*
seu blog ta lindo !