quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Moço,

Desculpa se acordei e não sou a mesma de ontem. Nem a de anteontem ou a de amanhã. Eu mudo. Camuflo. Vou do botão à rosa pronta, pra renascer nas pétalas caídas. Antes, fico fora de mim, ou daquela que serei. É época de falar comigo, ter demora para resposta, e quando respondo, falar vagamente sobre algo que já foi esquecido antes que eu tentasse - ou quisesse - lembrar.

Desculpa se isso te cansa. Não é intenção. Não escolhi voar por aí, pousar em um lugar e voar de novo. Faz parte do que sou, do que represento. Eu sei que te fiz acreditar que não voaria novamente. Eu sou atriz, o mundo é meu palco. Você foi plateia, e eu encenei pra ti, que aplaudiu no final. Eu não hesito, moço, em dizer e fazer ouvir o que penso. Você só ouve o que deseja. E isso choca, desgasta, contrasta. Quero achar o meu bando e, aí sim, não voar mais. E eu saberei quando isso tiver acontecido.

Desculpa, moço, se finjo pra nós. Por nós. Eu não quero mostrar que sou fraca, humana, sujeita a destemperos e inconstâncias. Eu acredito no que vejo e você, no que quer acreditar. Posso atuar, dissimular, imaginar, iludir, mas há um pedaço de mim que não encena. É a parte que quis pousar, definitivamente, em você. Foi a parte que tentou se auto-convencer que seria bom um pouco de estabilidade, pra variar. Era a parte, também, que queria esquecer, recomeçar, recriar. Você quis retorno e eu, seguir em frente. Você ficou, eu fui.

Agora, dói olhar pra ti e ver no azul-tempestade que um dia me atraiu, um repelente. Dói saber que entre as tentativas, você escolheu não tentar. Desculpa, moço, se te fiz perder tempo.

Você também não é mais você. Não reconheço o mesmo garoto que um dia teve riso fácil, espírito aventureiro. Hoje eu vejo alguém adulto e maçante demais para si mesmo. Não consigo, não posso, me acostumar. Se um dia quis, tenho agora o direito de rejeitar. Eu gosto de objetividade, moço, e você, de rodeios. Eu quis que fosse certo, mas você quis ver no que ia dar.

Meus heterônimos. Viu cada faceta. Mudança. Aflição. Fingimento. Sinceridade. Viu mais do que queria ver, mais do que sonhou um dia em ver. Mais do que podia, também. Talvez, não soubéssemos que não deveríamos saber de nada. Que deixássemos levar pela vida, por nós.

Agora anoitece em mim. É noite de lua nova, sem estrela, mas de um céu completamente ausente de nuvens. Respire o nosso orvalho e amanheça em nós.

19 comentários:

João Bertonie disse...

UAU, eu me tremi todo com o post, cheguei a pensar que tava tudo terminado ado ado com o seu boy e tal '-' E você é dissimulada? O: -q

Rafael Cotrim disse...

EHAUHEUA! Ela não é dissimulada >_< Acho que nao :P

Mafê Probst disse...

Acabei me lendo, letra por letra.
Sabe, essa coisa de pedir desculpas por não conseguir. Tentar, tentar, tentar. Mas eu fui. Eu parti. Ou quero.

Adorei tuas palavras, moça.

Jaya Magalhães disse...

Sam,

Que angustiazinha sacana que eu senti lendo isso. Fiquei lembrando de tanta coisa que já tava trancada, sabe? Foi uma poesia de um efeito dolor, mas ainda assim colorido, por ter recheio. Sentimento. Verdade.

Gostei imenso.

Um beijo.

Agatha disse...

A mudança é a lei do mundo. Valorizo a minha rotina, gosto de novas aventuras mais não suporto me afastar das minhas raízes. Só tenho coragem pra realizar viagens das quais tenho certeza que voltarei. Afinal, viagens são para espairecer um pouco, mais um dia você volta pro seu lar.

Você me assustou com esse texto moçinha! rs
Muito bom. Beijos.

Louise Mira disse...

ahauhaua é como a gente aprende na faculdade: quem escreve não é quem é; o eu-lírico do personagem não é, necessariamente, o do autor.
=P

Anônimo disse...

Não deveria se chamar "Moço", e sim "Moça", pois deixa pra nós tantas facetas de uma mulher, que nos encanta e nos faz apaixonar.

Érica Ferro disse...

Adoro o jeito que você escreve.

Ana disse...

Escolher não fazer nada é sempre o pior, menos pra escolhe, mais pra quem espera. As pessoas mudam mesmo, demais...

liiindo *-*

Beeijo ;*

Darshany L. disse...

"Você ficou, eu fui."
no meu caso é: você foi, eu fiquei.

Crispi. disse...

Me lembrou a Musica 'Rosas' da Ana Carolina.
Muito bom!
Beijos!

Caroline Thiemi disse...

Oi tem um selo pra vc la no meu Blog
http://problemasdeanjo.blogspot.com/

Adorei seus Posts, principalmente o que saiu na Capricho
Bjus

Adriel disse...

Otimo texto!

Morri Lendo de Fato kkkkkk!

Grande Abraço moça!

Natascha Oliveira disse...

Verdade seja dita. Todos os que leram essas palavras "duras", ficaram de queixo caido, pensando em umm possível termino de relação... Tremi de medo, li cada linha como se fosse o desfecho de um livro. Aí no final você diz que tá tudo bem com o seu boy(kibom)!!
Simplesmente adorei!!
Não dá mais eses sustos não. Quer saber?! Pode dar susto que a gente gosta!

Larissa disse...

Poxa... você escreveu com tamanha intensidade. Em toda leitura senti como se estivesse assistindo essa cena de camarote, e sofrendo. Uma melancolia. Parabéns. Está perfeito!

bjos
;*

Thais disse...

Lindo texto! Parabéns pelo talento!
Beijo! =)

Thaís A. disse...

Ainda bem que tá tudo bem! HAHA, ela viu o texto e veio conversar comigo, Sam! Agora já tá tudo bem melhor, ainda bem :)

Natascha Oliveira disse...

passando de novo só pra dizer que ficou linda na capricho... muito linda a postagem baby... bjinhos

Luciana Brito disse...

Palavras que me fizeram pensar, lembrar e largar, deixar no passado que é o melhor lugar para tudo isso. Um passado habitado por um moço... enfim, não.

Por um momento imaginei que isso fosse revelar algo mais pessoal... ainda bem que minhas expectativas foram quebradas. xD

E que vocÊ e seu moço continuem ótimos!

Beijos!!

Ps. Selinho pra tu lá na caixa!