terça-feira, 21 de abril de 2009

Silêncio


Existem caminhos para tudo o que se quer fazer nesta vida. Escolho os tortuosos, invariavelmente. Há um certo fascíio pelo difícil, pelo emblemático... Gosto de enigmas e de ser uma espécie de Sherlock Homes. De mim mesmo, talvez. O termo "impossível" soa definitivo demais. Somos argila, úmida e fresca - sempre há algo a ser moldado.

Eu permanecia com os olhos levemente enrugados, fitando o chão. Era um sintoma de quando parava para analisar uma situação, aparentemente, complicada. Ela explodiu:

- Você é impossível.

Ela sabe exatamente o jeito para me tirar da fortaleza dos meus pensamentos. O termo correto e dos meus olhos faiscariam lampejos de fúria. Creio que ela sabe mais sobre mim do que eu mesmo

- Depende da espécie da impossibilidade a que se refere - ironizei. Existem tantas...
Ela permaneceu em silêncio, sem mudar a expressão de descrença na minha expressão confiante. Ao contrário de maioria das pessoas, acho o silêncio delicioso. Descomplicado, simpático. Revigorante até. Nunca existiu necessidade de preenchê-lo com palavras estúpidas soltas ao acaso.

O que não quer dizer que ela não adorasse isso.

- Você é uma impossibilidade do tipo insolúvel. Ou imutável, sei lá.
Prolonguei o silêncio. Apesar de estar afundado em maquinações, como diria meu saudoso avô, fingi não reparar na perda de uniformidade da sua respiração. Poderia sentir a irritação latente à distância.

- Por que você não diz logo o que quer dizer? - sugeri. Gosto sim de lacunas vazias em uma conversa, mas prefiro objetividade. Fazer o quê, sou uma antítese ambulante.

- Quer saber? Chega! Pára de tratar a sua vida como se fosse um jogo de xadrez! Já experimentou agir sem a razão? Chama-se impulso, caso não saiba. E, por Deus, quer parar de olhar para seus pés quando conversamos?
Ela estava arfante quando terminou de falar. Curiosamente, notei que assemelhava-se a um carro sem freios.

- Eu não gosto de cometer o mesmo erro duas vezes. Achei que soubesse disso.

Não esperei resposta. Levantou-se, ajeitou os cachos-chocolate de forma afetada e partiu com um olhar de escárnio. Falso, nem preciso dizer. O olhar mais uma vez traía-lhe, demosntrando a irritação presente nos traços delicados de sua face. Não posso fazer nada. Não escolhemos a quem cativamos. Espero que, um dia, ela possa entender isso. Ou me entender. Ou deixar aquele silêncio curioso, de saber-não-sabendo debruçar-se gostosamente em nós.

8 comentários:

Flá Costa * disse...

Difícil achar blogs que "contem histórias" tão gostosas e profundas como esse post.

Parabéns.

beijinho*

Joice Worm disse...

Bravo Sam! Se ainda não és jornalista, já não deve faltar muito para conseguir.
Adorei a sua forma de escrita neste post.
(lá no pequeno milagre, entendeu porque estou falhando minhas visitas?...)
Muac, linda!

Vinicius Kmez disse...

Problemas com a mamis ou com uma grande amiga??

Sério, as vezes o melhor é ignorar e deixar que falem, porém, mudando e melhorando se possivel..se não fica aquela coisa repetitiva manjas?!


Obrigado pela visita e volte sempre

;*

Gilbamar disse...

Cheguei por um feliz acaso, descobri sua verve literária e fiquei encantado com as mensagens e seu inteligente jeito de escrever.

Tornei-me seguidor cativo.

Fraterno abraço de Gilbamar.

Empadilha disse...

muito bom....
texto legal, e prende...
parabéns

Anônimo disse...

nossa tu a cada texto se supera ein, parabéns gata

Alessandra Castro disse...

Um texto no qual todos se indentificam.

Louise Mira disse...

Nóffa! Que chique! mudou tudo por aqui!

adorei!!!!!!