quinta-feira, 25 de junho de 2009

Navegar é preciso

"Andar por andar, andei
E todo caminho deu no mar"

Içar as velas, levantar âncora. Viver, não mais viver apenas por viver. Meses a fio, moveu-se apenas por um vento, leve, constante. Respingos salgados cortaram seu rosto, querendo lembrar, talvez, dos outros pingos salgados que deixara com alguém, não mais lembrado.

Se procurava? Não sabia. Bastava o vaivém das ondas e o aroma de maresia. Não quis ir, mas ficar também não podia.

Sentiu náuseas. Isso acontecia, agora, com mais frequência. Sabe que está fazendo o que é certo, embora do modo errado. Aportar é uma escolha fácil, pensa. Porém, não é hora de ser fraco. Não agora. Não vai durar para sempre. E é apenas mais uma vez. Passou pela mesma experiência tantas outras vezes, porque desta vez seria diferente? Basta que o tempo ajude e logo irá desbravar outros mares. Ah, e, por favor, sem despedidas. É mais fácil dizer adeus sem pronunciar suas amarguras. O silêncio é um consolo por si só.

...

Covarde, sem dúvidas. Não há mais tempo para arrependimentos. Nem para nada. Precisa estar em todos os lugares e nenhum, sempre. Quisera Deus que, a partir de agora, soprem bons ventos. Cansou-se daqueles quentes, precursores de tempestades, apesar de achar as brisas refrescantes – e efêmeras - igualmente perigosas.

A lua despontava no céu, reinando absoluta. Anoitecera, sem que percebesse. Há tempos que estas coisas lhe pareciam irrelevantes. Era um espelho seu. Inalcançável. Lembranças, nas ondas vacilantes, sumindo e reaparecendo, um lusco-fusco enlouquecedor. Cada cratera, sua tortura. Por certo, uma arma branca. De extermínio iminente.

O corpo de Ismália havia ido para o mar, a alma para o céu, lá nas aulas do ensino médio. A sua, não sabia. O seu corpo sofreria mais um pouco. Um dia, quem sabe, seguiria o rumo da alma, que saiu a navegar e nunca mais voltou.

8 comentários:

João Esteves disse...

Gostei até da alusão a Ismália nesse seu texto interessante, fluido, ao fluxo da consciência como dizem alguns.
Mais bossa nova que rock'n roll, aqui, parece-me.

Unknown disse...

é impressão, ou hoje ficaste no caminho do blues?
lindo.
bjusss

. disse...

oioioi, amei seu blog,
vo te acompanhar!
passa no meu e se gostar acompanha tambem !
beijos.

http://annah528.blogspot.com/

Anônimo disse...

Navegar é preciso. Um porto seguro também, mas não abro mão das fortes ondas do mar.

Don't Speak disse...

Navegar é preciso. Um porto seguro também, mas não abro mão das fortes ondas do mar. [2]

Puts...falou tudo agora!

beijo!

Ryan Zamperlini disse...

Acho que estou meio desanimadinho...
Em outras palavras, estou a deriva!
Vou deixar que as ondas tomem conta de mim um pouco ;)

Francisca Nery disse...

querida, sou do TDB também... preciso falar contigo (: se você não chegou a receber meu recado me avise no orkut - o link está no meu blog (: obrigada!!!

Jaya Magalhães disse...

"Quando Ismália enlouqueceu..."

Teu texto me lembrou algo que um dia escrevi em cima de uma poesia de Bandeira. Hoje, me lembrou uma música do Maná. "El muelle de San Blás". Acho que você deve conhecer. Me lembrou muito, Sam.

O texto é maravilhoso, viu?

Beijo, frô.