sábado, 21 de novembro de 2009

Paranóia pré-vestibular

Daí que os minutos se tornaram horas e as horas, eternidades. E esse portão desgraçado não abre! Ai, que vontade de sair daqui, descrevendo qualquer trajetória imperceptível a olho nu. Nu estou eu, vendo todas as minhas células secretarem desespero junto com enzimas. Será que tem alguma "desesperosina"? Mas posso ter sorte, claro que posso! A probabilidade de haver uma questão com qualquer assunto que eu não saiba é de uma em noventa. Tudo bem, se desprezarmos toda a minha ausência de massa encefálica e o atrito entre as informações falsas carregadas por meus neurônios e o espaço vazio em meu crânio, talvez eu até me saia bem. Meu coração bate em uma velocidade e aceleração tão elevadas em tão pouco tempo que, aposto, se eu calculasse o deslocamento, iria até a lua e voltaria. Com a preocupação que estou, aposto que ausência de gravidade nenhuma conseguiria diminuir meu peso. Ah, e estes fios de eletricidade formando tantos triângulos de medidas que eu não lembro como calcular! Tantas horas sentado em uma cadeira saindo pela tangente! Calma, serenidade é o que há. Preciso esquecer de tudo. Não, mentira! Eu não posso esquecer de na-da, nada! Reparando bem, cara, quanta gente por aqui! Parece que toda a população de São Paulo está aqui. Me sinto n'Os Lusíadas. Agora estou no Cabo das Tormentas, e aquele segurança troncudo passaria fácil por gigante Adamastor. A pergunta que fica é: eu terei a minha Ilha dos Amores? Mentira, o anjo e o diabo de Gil Vicente estão aqui, me encarando. À barca? Não, sem barcas, sem demônios, anjos ou gigantes. Não sei porque estou com tanto medo. Aqueles fios de eletricidade formam triângulos de ângulos esquisitos e a progressão da minha tranqüilidade é baseada em uma constante menor que zero. A função é uma reta decrescente... Bandeira? Só a do Brasil. Quem me interessa, o Bandeira, me abandonou. E você, Drummond? Era tão meu amigo, porque essa sua rosa do povo me mata a cada espinho, então? Clarice, minha companheira de mergulhos dentro d'alma, agora é algoz. Machado? Esse olhar intenso através dos olhos oblíquos e dissimulados diminui o calor específico do meu corpo - como se eu não estivesse diminuindo o suficiente! E, Deus, por que diabos aquele garoto tem de comer tanto chocolate e tão perto de mim? Liberdade, igualdade, fraternidade... Isso não existe entre ou para vestibulandos, é tão utopia quando o socialismo de Marx. Faz mal não, ele vai ter sono – pelo menos foi o que o professor de biologia disse; comer chocolate pra fazer vestibular é suicídio. Por falar em suicídio, as portas estão abrindo. É agora. Ou vai ou racha. Seja o que Deus ou Murphy quiserem. Darwin, só te digo uma coisa: se isso faz parte da tal seleção natural, estou fora. Minha inutilidade neste planeta é diretamente proporcional à falta de funções do meu apêndice.


"A comissão organizadora deseja boa sorte"

7 comentários:

Marcelo Mayer disse...

vestibular não trata de pessoas e sim de números

Érica Ferro disse...

Preciso dizer que essa postagem ficou show?
Ficou!
Bem inteligente. Não poderia ser diferente vindo de você, né?

Sei que você arrasará no vestibular, Sam. De qualquer modo, estou na torcida.

Um beijo!

João Bertonie disse...

HAHAHA
Genial, Sam. Adorei as metáforas e tudo mais (-:
Vestibular é meio complexo porque até um analfabeto pode passar se tiver sorte e sair chutando por aí '-'
(isso já aconteceu uma vez, é)

Adorei.
Ah, postei no nosso Motel -n Hotel, ok? :B


beigos oito

Agatha disse...

E mesmo que me digam que estou sendo precipitada, a paranóia do vestibular já me possuiu '-'

Um beijo.

Henrique Miné disse...

ai, que exagero.

eu ADOREI fazer vestibular, mas, sabe, todos dizem que sou irresponsável...



beeeeijos.

Fernanda Siqueira disse...

Usando das palavras do comentário de cima... se for exagero: Que delícia de exagero. rs, adoro ler-te aqui, e esse post ficou a definição exata, calculada em cada centímetro de altas e continuas tensões, e tudo por um ponteiro que não gira a favor dos nossos pobres neurônios - mais rápidos, apressados, e loucos que qq outros - que são em frações ou inteiros (que diferença faz?) pressionados com uma força insuportavelmente maior que a área. Nessas horas nem mesmo a desconfiança da amada Capitu é maior da que temos de nossa capacidade, he. E isso, aposto, nem mesmo Freud explicaria. rs
Se me permite:
Arrasa Sam!

=)
Abraços.
Fer.

Anônimo disse...

Eu nunca acreditei que a comissão organizadora me desejaria sorte... eles querem que eu morra, aposto!

E falando em nervosismo... minha cara esta cheia de espinha por conta do nervoso que dá, do ENEM e da UFPE... Mas nada não... Deus sabe o que agente fez o ano todo e isso vai ser refletido na prova =]

Beijo biejo