Lápis, papel, sentefalaescreve - puf!, fez-se o estrago. Tão cômodo! Ter papel pra derramar as letras que ficaram inertes na língua - reticentes em atirar-se ao incerto - é reconfortante.
Mas as letras nos enganam. Elas não percorrem o ciclo biológico; jamais veremos um poema nascer, crescer, se reproduzir e apodrecer lentamente junto a outros tantos. As danadas são imortais, têm a eternidade inteira pra encantar, instigar, mobilizar e tantos poderes outros que há eras nos maravilham e amedrontam.
Palavras são feitas dos incômodos, angústias e aflições que dão cor aos rostos desses robôs de carbono que desde então habitam este planeta. Cada letra é uma cápsula do tempo, capaz de transportar a memória para onde se queira. Pode existir arma mais perigosa?
Se apenas escritas, são meros símbolos combinados de forma socialmente léxica. Ora, falta o sujeito agente, o fulano que lê, compreende e vive cada frase em seu significado. Taí, a chave do enigma: viver. Ater-se ao escrito, lê-lo, relê-lo e guardá-lo em uma gaveta em companhia de diversos outros papéis é fadar as letras à pior das indigestões. Em seu estado bruto, elas descem, ferem nossas traqueias, são incapazes de se transformarem em qualquer nutriente; depois de tamanho inconveniente, são vomitadas e então, são apenas pedaços desconexos de sentires.
Por isso, te alerto:
cuidado!
As palavras podem te tornar humano.
5 comentários:
que lindo!
Bela análise das "letras".
Realmente, elas são PODEROSAS!
Bjus!
:*
muito lindo!
The words. É isso que são, poderosas, são "donas de si". Bem isso. Gostei muito.
Parabéns ! muito lindo texto *-*
Estou passando pelo seu blog e é muito bom, parabéns. É uma delícia encontrar bons escritores, e no blogger estou achando vários...
Comecei a publicar meus textos há pouco tempo. São redações da escola e outros textos que escrevo no meu tempo livre. Se você puder me visitar e dar sugestões para melhorar, fico grata (:
www.ventostemposcantos.blogspot.com
Obrigada :D
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