sábado, 3 de outubro de 2009

Filha


Duas horas fingindo arrumar o cabelo. Espera apressada na sala, tão perto, tão longe. Pelo visto, o interrogatório começara e ele não estava se saindo lá muito bem. Definitivamente, não era o modelo esperado para uma apresentação, e sua aprovação não seria imediata. Sorriu cúmplice; algo lhe dizia que o desespero [dele] duraria pouco. Era um bom rapaz, no fim das contas.

O cabelo refletia muitas vezes seu estado de espírito. De lua, como diria sua mãe. Dela, como diria o [bom] rapaz. E o pai mantinha-se calado.

Há muito que as palavras paternas não alcançavam sua menina, crescida sem que visse. Ele não cresceu junto; estava preso às primeiras palavras, aos porquês infindáveis. Saudades destes tempos, já tão distantes. Tentava fazê-los voltar à tona constantemente; um hábito seu era imaginar sua filha pequena, sem maquiagens ou falando sobre morar numa república de uma cidade longínqua onde faria faculdade. A filha, a única filha, tão longe? Estremecia só de pensar.

A mãe ainda tinha um certo ciúme. Ciúme de quê? De quem, meu Deus! Era a sua garotinha, saindo com esse rapaz, tipo estranho. Aliás, convenhamos, que gostinho estranho da filha pra meninos! E se ele a machucasse? Seria capaz de matá-lo com suas próprias mãos e fazê-lo engolir – em doses nada homeopáticas, asseguraria – cada falsa verdade que dissesse.

O rapaz mantinha um sorriso ensaiado, já que por dentro estava em erupção. Eles não paravam de fazer perguntas. E toda hora surgia algum ponto novo para se discutir. Seus pais não ligam pras tatuagens? E o cabelo comprido? Pelamordedeus, será que não podem ficar quietos? Parece que o pai quer matar o tempo da demora – e, cadê essa menina? Ou matá-lo, seria mais oportuno. O pai dela era enorme...

Por fim, a porta do quarto rangeu ao ser aberta, fazendo com que todos se voltassem para o corredor. Saiu, com o cuidado de quem não quer atrair mais atenção, a menina, pronta para o novo passo. O pai parou de falar. A mãe tentava, inutilmente, sugar a emoção materna pro fundo do peito. O namorado ficou em um misto de alegria e nervosismo.

Saíram como pássaros a voarem afora do ninho. Os pais, preocupados com o primeiro vôo e o seu depois. A mãe sentia que era apenas o começo; o pai dizia estar com dor de cabeça e foi se deitar (ah, pais, tão medrosos!). Ficou só o choro materno naquele portão, num adeus à garotinha que já estava longe de suas vistas.

13 comentários:

Anônimo disse...

A menina foi, e em breve ira de vez. A mulher viverá na casa em breve.

Marcelo Mayer disse...

o pai abre o caminho, a filha(o) pavimenta

Castro disse...

Lindo! *-*

Érica Ferro disse...

Que bonito. :D

Ah, Sam! Escreve um livro, vaaaai, eu sou a primeira a comprar - promessa!

Beijo.

João Bertonie disse...

Ai, que lindo, Sam (:
Triste para os pais. Mas os filhos são do mundo, né?
Ela foi seguir o caminho dela assim como você e eu também iremos um dia '-'


beigos mil

Natascha Oliveira disse...

Own!! Vi o filminho aki na minha caxola..

adorei mesmo!!

B disse...

Como dizem, os pais criam os filhos pro mundo, né?
Amei o texto!
Bjooss

Anônimo disse...

mas mãe eu volto às 10..


:*

Mari!! disse...

Oiie Sami Amei a sua post " a menina foi, em breve ira de vez "

Entra lah no meu blog : www.pgirl-perfectgirl.blogspot.com !!

Amei seu blog !!

Katrina disse...

Os pais costumam ser gaiolas.

Jaya Magalhães disse...

Lá em casa foi diferente.
Ainda bem que foi.

Lá em casa, a gente era passarinho solto. E por assim, nunca deixa de querer voltar pra mãe e pai, mesmo quando o coração bate por outro que voa igual.

Um beijo, Sam.

Henrique Miné disse...

ahh, que bonitinho!

É impressão minha ou isso, mais uma vez, foi um tanto quanto pessoal?
=x

hehe, graaaças a Deus ainda não passei por nada parecido! ;D


Beeeeeijos.

Henrique Miné disse...

Ah, e só reforçando, li em algum lugar, não lembro onde que, todos precisamos de alguém para jogar em nosso time, porque os pais, são só torcida, reclamam, dão palpites, mas não jogam naada. ;D

Agora sim, Beeijo.