- Cinco minutos.
- Estou pronto.
Vida de circense não é só riso, lembrou. A comida, a cama, tudo lhe era mais caro. Eu te peguei numa arquibancada, você só deveria agradecer. O apresentador gostava de apontar para suas mazelas. Como se ele não soubesse que veio da lama e para a lama iria...
Era só mais uma temporada, em uma cidade pequena. Ele gostava de cidades do interior, o ar era mais fresco, a plateia mais animada. As risadas eram sinceras, as crianças não queriam ir pra casa jogar videogame. Elas queriam ver o palhaço. Aquele palhaço.
O número era o mesmo, e ele apresentava todo ano. As crianças arregalavam seus pequenos olhos, diante daquele palhaço que punha fogo no próprio cabelo e não se queimava. Eu já estou queimando por dentro, meninada...
Tinha uma moça de canto, o único lábio retorcido entre todos os sorrisos. Tirou uma flor do dum lenço – como? O rosto ranzinza se iluminou. Ela lhe deu um beijo, de leve. Não faz isso comigo, moça bonita.
- Tem apresentação amanhã?
- Pra um sorriso bonito e beijo com sabor de fruta sempre tem.
Ela riu. Ele flutava.
Noite seguinte, reapareceu no mesmo lugar. Ele olhou uma, duas, tantas vezes que parou de contar. Estava sozinha. O coração palpitou às pernas, que não tardaram a seguir a ordem. O menino-moço não via. Só queria aquele colo de menina, de olhar triste e risonho, ao mesmo tempo.
- Demorei?
Parou. Uma silhueta grande tomou o assento vizinho. Olhos mal-intencionados. A moça riu, com malícia. Foi-se o encanto. Aqueles olhos tristes de ontem contraíam-se em uma expressão débil, vazia de ser, cheia do fingir.
Voltou para sua cama, seu lenço, sua peruca. O nariz vermelho - sinal fechado da vida. Não tinha jeito. Sempre seria Pierrot sem sua Colombina até achar quem lhe sorrisse os olhos – de lábios hipócritas já tivera o bastante.
Naquela noite, deixou-se esquecer na mesma arquibancada onde, um dia, alguém o esqueceu.
And if you're ever around
In the backstreets or the alleys of this town
Be sure to come around
I 'll be wallowing in pity
Wearing a frown like Pierrot the clown...
(Placebo - Pierrot, the clown)
In the backstreets or the alleys of this town
Be sure to come around
I 'll be wallowing in pity
Wearing a frown like Pierrot the clown...
(Placebo - Pierrot, the clown)
14 comentários:
"E o Pierrot só queria amaaar..."
inevitável, hehe.
nossa, fazia tanto tempo que não passava aqui! vou ler os posts antigos ali pra tirar o atraso, hehe.
beeeeeeijos.
Lábios são mentirosos, olhos não.
Adorei, Sam!
Beijo.
Linda a história, me apaixonei...
pobre pierrot, achava ter encontrado sua "ilha de esperança" no mar de mesmisse...
amoo seu blog *-*
You Rock!
Pierrot; eu sempre me vejo nele!
:)
Excelente texto.
Triste mas gostei...XD
E o Pierrot nem notou que, do outro lado, na arquibancada, outros olhos sinceros procuravam pelos seus...
=)
Sempre tem uma alternativa para o final.
Pierrot só queria amar. Bom, temos algo em comum :D
na boa, você escreve MUITO. queria poder ter esse dom da palavra :D
adoro esse blog.. venho sempre mas sempre esqueço de comentar. mas enfim
liindo :D
Pierrot ainda há de encontrar lábios e olhares sinceros, e que o ame.
Beijos Sam
circo é uma negócio meio agridoce, sem tem um lado trágico, ou assustador... ou talvez seja só o meu lado problemático falando :)
♥
Acho o circo fascinante.Pena que hoje em dia tenham poucos de qualidade,e os que existem pedem uma quantia absurda...
Palavras são erros,e os erros são seus!
É rock com as palavras doces da bossa. :)
Eu achei tão fofa a inôcencia do conto. Faz tempo que não leio coisas assim. Nem preciso dizer que gostei do blog inteiro, né? HDUAHDUAH.
Lindo conto... é triste, mas tem sua beleza, sua leveza, melancolia... lindo! Parabéns! *-*
Quem nunca passou por isso? De ñ ter o amor ao seu lado,amor compartilhado, e ver o amor despedaçado!!! Muito loko Saminha, parabéns gagota saudades de ti.
Bjs...
De seu primo q vc esqueceu...
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